O Escotismo do Mar não é uma invenção brasileira. Logo após ter criado o Escotismo, em 1908, BP se pronunciou de forma categórica e entusiasta a favor do Escotismo no Mar.
O Escotismo do Mar é uma das Modalidades do Movimento Escoteiro em que predominam as atividades ligadas ao mar, como remo, navegação a vela, caça submarina, pesca, surf, além dos estudos atinentes à segurança do mar, à navegação costeira, às riquezas do mar, familiarizando os Escoteiros com os múltiplos caminhos do mar em termos de recreação e lazer e, também no campo econômico, com variada gama de profissões ligadas ao mar.
Em 1910, no Encouraçado Minas Gerais, chegava ao Brasil, e oficiais da Marinha de Guerra, traziam os primeiros manuais escoteiros em inglês, uniformes e os primeiros escoteiros brasileiros (pois haviam feito suas promessas na Inglaterra), filhos de alguns desses sub oficiais. O comandante desse navio chamava-se Amélio de Azevedo Marques, e junto com os demais marinheiros foi o introdutor do Escotismo no Brasil. Estes marinheiros assim que chegaram no Rio de Janeiro abriram uma tropa escoteira no bairro do Catumbi, próximo do Sambódromo de hoje, na Rua do Chichorro número 13 (existe na fachada da casa uma placa alusiva a fundação deste grupo hoje extinto).
No Brasil não foi diferente, as práticas de atividades náuticas, as sedes escoteiras dentro de Clubes Navais, as tropas mantidas pela Marinha ou com Chefes que eram marinheiros, os ambientes aquáticos para atividades constantes eram comuns desde 1910, porém não foram organizados como modalidade, semelhante ao ocorrido na Inglaterra, inicialmente.
A Missão José Bonifácio, em 1919, foi realizada pela costa brasileira sob o comando de Frederico Villar, trazendo à pátria milhares de brasileiros que viviam ignorados do Brasil, isolados em praias, os pescadores. Durante a Primeira Guerra Mundial esses pescadores de norte a sul auxiliaram a Marinha Brasileira montando guarda, repassando informações e observando os mares, acolhendo e dando de comer aos soldados brasileiros, protegendo assim a costa do país. Nessa Missão eram organizadas colônias de pesca agrupando esses isolados homens e suas famílias. Em cada colônia foi aberta uma escola para as crianças e jovens, filhos destes pescadores.
No desenvolver dessa missão, foram de extremo a extremo do país, desde o Rio Grande no Rio Grande do Sul a Belém, no Pará, pela costa, e quando chegaram no Pará, na cidade de Belém, foram convidados pelo então tenente Benjamin Sodré, que servia naquele local, a assistir a cerimônia de Promessa dos primeiros escoteiros daquele estado, chefiados por ele.
Os oficiais da Missão José Bonifácio ficaram tão empolgados com o que viram que resolveram levar aqueles escoteiros para visitar o navio Cruzador da Missão. Foram colocadas na água para uso destes escoteiros as pequenas e médias embarcações daquele navio. Como aqueles meninos e rapazes eram moradores de regiões ribeirinhas e praianas, tiveram a facilidade para usar aquelas embarcações e se divertir, e foi dessa visão que o Tenente Benjamin Sodré, os Comandantes Frederico Villar e Gumercindo Loretti e demais tiveram a idéia de constituir no Brasil um escotismo próprio para o Mar, os Escoteiros do Mar.
Com o retorno do cruzador, partindo dessa idéia, voltaram parando de colônia em colônia de pesca e orientando a abertura de Grupos de Escoteiros do Mar nas escolas destas colônias em ambiente náutico. Deste trabalho organizaram-se os primeiros Grupos Escoteiros do Mar, o Santos, o Jequiá , o 10º Grupo e o Cabo Frio, sendo que destes o 10° Grupo, já existia como Grupo Básico mantido pela Marinha e com atividades náuticas, convertendo-se em Grupo do Mar. Finalmente em 7 de Setembro de 1921 foi fundada a Confederação Brasileira de Escoteiros do Mar.
Esta fundação aconteceu em um acampamento realizado no Saco de São Francisco, enseada de Jurujuba, um dos recantos da Baía de Guanabara, no litoral fluminense, onde existe uma pedra com uma placa que lembra esta data. Destacam-se como pioneiros desta jornada o então Tenente Benjamin Sodré (o Velho Lobo), o Tenente-Aviador Gelmirez de Mello (o Polvo Velho), Comandante Frederico Villar, Comandante Gumercindo Loretti, Professor Gabriel Skinner e o Almirante Raja Gabaglia.
Logo, àqueles primeiros grupos vieram se juntar a Confederação do Mar, os grupos Jurujuba, Copacabana, São João da Barra, Caju, Saquarema, Pará, Maranhão, Paquetá, Euclides da Cunha, Marcílio Dias e outros mais, sendo que os últimos já não tinham as características determinantes de Grupos de Colônias de Pescadores que marcaram a maioria dos Grupos organizados inicialmente.
Em 1924, a Confederação Brasileira de Escoteiros do Mar, que se preocupava em unir as diferentes formas de praticar o Escotismo no Brasil, juntamente com os Escoteiros Católicos e Fluminenses fundaram a União dos Escoteiros do Brasil no Clube Naval, sua primeira sede, no centro do Rio de Janeiro (a primeira sede da União dos Escoteiros, dentre outras, foi cedida pela Marinha através da Federação do Mar). Com essa unificação as Confederações passaram a se chamar Federações.\
Para suprir o problema da falta de embarcações, valiam-se os Grupos de embarcações alugadas, particulares emprestadas e doadas pela Marinha. Não tardou muito para a simpatia do povo ir ao encontro dos rapazes e o primeiro navio apareceu - Escoteiro do Mar, escaler a quatro remos e velas, oferecido pela população da Ilha de Paquetá. Um outro navio foi comprado para o 10º Grupo, seria o Loretti vinculado aos Escoteiros do Mar da Guanabara e ainda existente hoje. Pouco tempo decorria da sua organização, teve a Federação do Mar a atenção e o auxílio oficial da Marinha de Guerra, trazendo vantagens e facilidades para o Escotismo do Mar de todos os tipos.
Assim, o Aviso número 3.811 de 28 de março de 1923 do Ministro da Marinha, criou o primeiro Regulamento dos Escoteiros do Mar, que deveria ser seguido por todos. Recursos materiais e apoio moral foram fatores de acentuado e seguro desenvolvimento propiciado ao Movimento que se iniciava. A Marinha de Guerra trouxe o Escotismo ao Brasil em 1910 e na década de 1920 garantia o desenvolvimento do Escotismo do Mar. Embarcações, instalações, pessoal para instrução foram cedidos ou facilitados aos Escoteiros do Mar, não só na então Capital Federal, como nos estados. Após o Loretti veio o Parnaíba, o Celine, a Pérola e assim foi crescendo a flotilha que, em 1933 já formavam cerca de duas dezenas de Navios distribuídos pelos diversos estados da União dos Escoteiros do Brasil, constituindo o seu Departamento de Mar.
Em 1929, uma patrulha de Escoteiros do Mar é enviada à Inglaterra a fim de tomar parte no Jamboree da Maioridade. É esta a primeira participação dos Escoteiros do Mar do Brasil em atividades internacionais. Em 1934, possuía uma sede instalada em um dos pavilhões da Lavanderia do Loide Brasileiro, junto às docas do Mercado Velho, onde se ergue hoje o Edifício da Caça e Pesca, na praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro.
Em 1935, concretizando uma idéia de Bonifácio Borba é formado o primeiro Círculo de Pioneiros (CIPI), primeira contribuição para o desenvolvimento do pioneirismo no Brasil, tendo em vista que os Pioneiros, ou "Rovers", quase não existiam no Brasil, e quando existiam, era de forma desordenada, aleatória e isolada. Bonifácio, que era Comissário Internacional da União Escoteira Brasileira, teve contatos diretos com Baden-Powell e trouxe, dentre vários, materiais específicos para o Ramo Pioneiro, como o folheto sobre Pioneiros do Dr. Griffin que falava das virtudes e da távola pioneira e da mística pioneira também tratada por Baden-Powell no Escotismo para Rapazes. Logo este folheto foi traduzido pela equipe Almirante Barroso do Clã Tiradentes do 10º Grupo, o primeiro Clã a ser formado no Brasil. Em março de 1935, é impresso o primeiro número da revista "O Escoteiro do Mar", revista essa que impulsionaria o crescimento da Federação do Mar e que trazia grande diversidade de assuntos e matérias destinando-se a transmitir técnica marinheira, ensinamentos doutrinários, as músicas, e todo o tipo de cultura mundial através de textos traduzidos de várias culturas. Neste mesmo ano foram criadas as Comissões Regionais do Mar nos estados, subordinadas ao órgão Nacional da Federação do Mar.
De 1921 a 1936, passados 15 anos, muitas vocações foram descobertas, tendo neste período cerca de 6.500 rapazes entre 11 e 18 anos que futuramente seriam encontrados exercendo cargos e postos na Marinha de Guerra, na Marinha Mercante e em organizações esportivas veleiras do País. Os bens reunidos pelos Escoteiros do Mar, reuniam já uma flotilha nacional formada por cerca de 40 embarcações, material de campo e de adestramento.
Em 1937, a Marinha de Guerra entregou aos Escoteiros do Mar o usufruto da Ilha da Boa Viagem. Nesta ilha que se encontra à entrada da Baía de Guanabara foi construída uma casa o "Castelo da Boa Viagem", que seria um posto de guarda fundamental para a proteção da Baía de Guanabara, existindo a condição de que quando for necessário o uso da ilha pela Marinha, esta passa a guarda da mesma, retornado logo após o uso, aos Escoteiros do Mar. Nesta ilha fica sediado o 4° Grupo Escoteiros do Mar Gaviões do Mar, que guarda suas chaves.
Em 1938, adquiriam os Escoteiros do Mar a sua primeira Base Naval própria localizada no Porto de Maria Angu, em Olaria, subúrbio do Rio de Janeiro onde foi construído estaleiro e oficina de construção e reparo naval, por muitos anos até quando foi construída a Avenida Brasil e esta base perdeu a saída para o mar, sendo sua posse passada para a exploração pela região Escoteira do Rio de Janeiro com o fim de reverter fundos para a manutenção das embarcações dos Grupos do Mar. Em 7 de junho de 1957 foi adquirida a Base Oeste na Ilha do Governador, Rio de Janeiro a qual existe até hoje e é a sede do 71º Grupo Escoteiro do Mar Almirante Waldemar Mota.
Em Setembro de 1941, existiam Grupos do Mar em 16 Unidades da República: Amapá, Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A Sede Nacional era no quarto pavimento do Edifício da Caça e Pesca, na então Capital Federal, em sede expressamente mandada construir pelo então Ministro da Agricultura Fernando da Costa, em reconhecimento ao papel que o Escotismo representava na formação da nacionalidade e no preparo da juventude para as tarefas do porvir. O efetivo era de 3.000 homens, a frota nacional atingira o total de 73 embarcações; um Campo-Escola funcionando na Ilha da Boa Viagem, na Baía de Guanabara; uma Base Naval instalando-se no Porto de Maria Angu no Rio de Janeiro; 32 fundeadouros localizados em 14 Estados; uma Revista já no seu quinto ano de existência; uma seção de impressos escoteiros com uma coleção de 150 modelos; uma Escola Nacional de Chefes no 14º Curso; 7 Escolas regionais de Chefes em 7 Comissões Regionais. Em 1950, se desfaz a Federação Brasileira de Escoteiros do Mar, sendo anexada como Modalidade na União dos Escoteiros do Brasil, porém sua estrutura continuou funcionando até finais dos anos 60.
No início da década de 1990, a Direção Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, aprovou uma regulamentação que retirava o uso dos uniformes de modalidade, implantando a utilização do novo traje, que não fazia distinção de uma modalidade para a outra, composto de uma camisa azul e calça jeans.Partindo da iniciativa da então Coordenação Nacional da Modalidade do Mar, formada por três almirantes antigos escoteiros, a Chefe Maria Pérola Sodré e o Chefe Jarbas Pinto Ribeiro, foram enviadas cartas a cada Grupo de Escoteiros do Mar do país desaconselhando o uso do traje novo. Mobilizaram-se de norte a sul do país os Grupos do Mar reivindicando que a tradição fosse mantida, não retirando seus uniformes tradicionais. Logo a Direção Nacional da União dos Escoteiros do Brasil autorizou que fosse utilizada a camisa na cor branca para os Grupos da Modalidade do Mar e mais adiante o retorno dos uniformes tradicionais para aqueles Grupos que assim desejassem. A autorização abriu precedente para os demais Grupos irmãos de outras modalidades que desejavam manter seus uniformes tradicionais.
Benjamin de Almenida Sodré
Benjamin de Almeida Sodré (Mecejana, CE, 10 de abril de 1892 — Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1982) Benjamin de Almeida Sodré foi um escoteiro e um futebolista brasileiro que ficou conhecido como Mimi Sodré. Campeão em 1910 e 1912, pelo Botafogo. Em 1912, também foi artilheiro do certame, com 12 gols.
Biografia:
Filho de Lauro de Almeida Sodré e que mais tarde se tornaria um personagem muito importante na História do Escotismo brasileiro. Curiosamente, Benjamin Sodré, que mais tarde seria conhecido pelos Escoteiros como "O Velho Lobo", teve em sua vida muitas passagens e características semelhantes a Baden-Powell.
Ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e depois de terminar seus estudos secundários prestou concurso para admissão na Escola Naval sendo aprovado em primeiro lugar.
Fez brilhante carreira na Marinha Brasileira, sobrevivendo ao naufrágio do rebocador Guaraní, em 1913 e chefiando a Comissão Naval Brasileira durante a II Guerra Mundial. Tornou-se Almirante em 1954.
O Velho Lobo, assim como o fundador Baden-Powell tinha uma série de Talentos e Interesses diferentes. Foi professor de Astronomia, Navegação e História da Escola Naval, publicou diversos trabalhos, foi Maçom e sobretudo um excelente jogador de futebol, ponta esquerda do Time do América-RJ, do Botafogo e da Seleção Brasileira de Futebol entre 1910 e 1916, conhecido como "Mimi Sodré".
Desde que entrou em contato com o Movimento Escoteiro tornou-se um grande seguidor dos ideais de B-P, participando da fundação e organização dos Escoteiros do Mar, o primeiro Grupo Escoteiro de Belém, a Federação de Escoteiros paranaenses, entre outros. Escreveu o “Guia do Escoteiro” de 1925, uma das mais importantes obras do Escotismo Brasileiro. Os Escoteiros do Brasil nesse período eram divididos em diversas Federações e não constituíam uma unidade central, desta forma, O Velho Lobo teve papel fundamental na idealização e criação da União dos Escoteiros do Brasil, a UEB, reunindo as quatro primeiras federações (a Federação de Escoteiros Católicos do Brasil, Federação Brasileira de Escoteiros do Mar, Federação dos Escoteiros do Brasil e Federação Fluminense de Escoteiros).
Foi honrado com uma série de títulos, entre eles o de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro e outros Estados e medalhas de mérito, presidindo a ordem do tapir de Prata, a mais alta condecoração do Escotismo Brasileiro. Faleceu em 1 de fevereiro de 1982, pouco mais de dois meses antes de completar 90 anos. Atualmente vários Grupos Escoteiros, ruas e espaços municipais levam o nome de Almirante Benjamin Sodré, em sua homenagem.